A porta de entrada é a placa “Sejam Bem vindos!”, nessa boa vinda que chegamos àquela maravilha permeada de concreto, outdoors, pessoas indo e voltando, seja em carro, bicicleta, carroça, coletivo, moto... Bem “assim caminha a cidade” é o seu dinamismo, e porque não dizer sua maquiagem? Os grandes edifícios o não são a demarcação do limite do olhar (rapaz esse é alto, mas sei que ainda podem construir outros maiores), as Igrejas principalmente nas grandes cidades têm a sua sacralidade deturpada pelo simples, não interessa o padroeiro (a) o pároco, é reconhecida mais como “ponto turístico”... Nas ruas e avenidas principais corre gente de todos os cantos daqui, dacolá, de lá, não sei de onde, equiparável as ao sangue correndo pelas veias de um corpo. Expressões muito doces saem dos lábios de quem entre nessa correria: “Você tá cego”, “comprou sua carteira”, “Filho de uma égua, tá vendo a faixa não?!” os sons ensurdecedores das buzinas, as motos que sempre querem desafiar o tempo, o espaço (entram em lugares que nem dá pra ultrapassar)... E o que falar daquele sinal que passa um tempo quase que eterno para mudar, “anda to com pressa” naquela hora do “hush”, na qual fome e impaciência casam perfeitamente, não sei bem se posso chamar isso de perfeição, mas tudo bem...
Agora vamos ao principal ingrediente da cidade: AS PESSOAS! Sim elas que dão o brilho a essa orquestra da existência humana. Tanta gente de várias cores, jeitos, olhares, corpos, uma miscelânea: pernambucanos, baianos, mineiros, alagoanos, italianos, enfim seres humanos. Nas ruas olhares trocados, talvez contemplados apenas naquela única oportunidade, informações: ,”por favor, onde fica essa rua?” “ah é fácil você dobra ali a esquerda,siga a direita...” ou ainda “olha não sei não!’( poxa vida!). E como não esquecer daqueles que lutam pelo pão de cada dia e usam de sua simpatia para tirar sua sobrevivência “Olha a pamonha, 2 por R$ 1,00”, “Vale Transporte, quer vale, quer vale”, “DVD por apenas R$ 2,00 se quiser levar três é R$ 5,00”,”Chicrete, bala, Tridente, jujuba de vários preços, quem vai querer?. “Olhe quanto é?”fala o cliente, “Vinte reais” responde o vendedor, “Mas lá na frente eu encontro por 15” “Então compra lá!”termina o breve diálogo capitalista. E quando o celular toca? “É o que? Você está onde? Não dá pra ouvir, tá muito barulho”.
Outro elemento são os famosos pontos de ônibus, é lá que surgem notícias das mais variadas possíveis (economia- olhe minha conta de água veio um absurdo você acredita?, entretenimento- sim você soube da filha de Maria lá da Lotérica,tá grávida minha filha, pois foi, soube hoje na padaria, fatos- e a cena da novela ontem, Teresa Cristina fez igualzinho a Nazaré!, problemas- aqueles bilhetinhos ou uma criançinha pedindo ajuda para fazer uma refeição “ô moço me arranje um real, ou qualquer coisa serve!” lugar da música- aquela mais cantada não tenha dúvida virou modinha, mesmo que não tenha letra boa, arranjos perfeitos, tá na boca do povo é sucesso!”) Fila para entrar no coletivo, fila pra sair, encontros “oi tudo bem você por aqui!” mas quem está subindo tem um único objetivo, apesar das condições muitas vezes precárias do transporte público, pretende-se ir sentado tranquilamente naquela cadeira, olhando pela janela a maravilha esculpida pelas mãos humanas: A Cidade! E os apertos, sempre tem gente querendo um lugar no ônibus, agarra-se nos ferros, os cavalheiros cedem lugar às damas, os conscientes ainda seguram as bolsas, sacolas, cadernos...
“Socorro!” é o grito que ecoa nos hospitais públicos, clamando por uma ajuda, afinal dor não tem hora nem dia de se manifestar, e a espera para fazer o cadastro e ouvir ainda por cima ouvir da recepcionista “o médico chegou, mas só atende caso de urgência!” poxa... Prefiro nem discorrer deixo para o leitor se questionar o que seria essa EMERGÊNCIA!
Bem, poderia enumerar ainda outros cenários: Os dos bairros nobres, por exemplo, onde se anda geralmente maravilhando com as casas, e os estabelecimentos que mais parecem cenário de novela global, perfumes que exalam olores, carros bem polidos, com ar condicionado, vidro fumê... Já em contrapartida os bairros populares ali se vive muitas vezes a partilha, a solidariedade, religiosidade simples, jeito sincero de acolher, o coletivo é nosso meio principal de transporte, às vezes esquece-se que de lá vem o estudante esforçado, o vendedor de cachorro quente, a vendedora de produtos de beleza, e às vezes a periferia é rotulada apenas como mitiê de traficantes e marginais, não lá também tem cultura e outro valores!
Mas a cidade em sai não é assim o lugar por excelência das catástrofes, é também o habitat das oportunidades de crescimento, das praças para sentar, ler um livro, tomar um sorvete, comer um acarajé, conversar com um amigo (a), enamorar-se, ver os artistas populares, respirar um ar mesmo que não seja tão puro...!
Um dia achei um raciocínio formidável diante de tantos adjetivos sobre o que vem a ser cidade, é além de turbulenta, caótica, encantadora, não esqueçamos que todas as atribuições dependem de nós, porque “também SOMOS CIDADE!” e a partir de mim que muita coisa pode ser mudada, re-significada.
Desarmemo-nos mais e nos invistamos da sensibilidade de mesmo na correria, nos vai e vem da vida, possamos olhar a maravilha que é chuva molhando aquele asfalto obrigando todo mundo a parar uns instantes, é como se a CIDADE pedisse um pouco mais atenção e dissesse “Parem tudo e olhem pra mim!”
Forte abraço:
Diego Monteiro